foto por Marjon Buurema

quarta-feira, 21 de abril de 2010

POSTOS À PROVA

Cheguei de Roma este Domingo passado.
Dia 18 de Abril, sim, um dos muitos dias na recente história negra da aviação europeia, que mostrou o quanto tudo se redimensiona rapidamente perante situações que acontecem aparentemente longe e, no entanto, tão perto.
Como, perguntam?
Nem mesmo eu sei, porque não é novidade para ninguém o cenário caótico que se gerou…
E o quanto, de repente, nos podemos sentir impotentes e vulneráveis.
A muitos km de casa.
Com um concerto da Rua da Saudade já dia 24, no Crato! (Garanto que teria vindo, nem que fosse a pé…)
Mas a verdade é que é sempre na dificuldade, na confusão que a vida se revela. De forma tão extraordinária que não posso deixar de partilhar.
Primeiro conselho: Acreditem! No vosso instinto, na vossa vontade, no vosso desejo profundo de que algo corra pelo melhor. A julgar pelas pessoas que me garantiram que o aeroporto estava fechado, que os voos estavam cancelados também em Roma, que nunca lá conseguiria chegar, nem sequer tinha saído do hotel. Nem da cama…
Mas ao meu grande jeito teimoso, eu decidi que tinha de vir e Acreditei.
E o decorrer desse dia foi uma sucessão de pequenas vitórias, que agradeci passo a passo e que celebrei como nunca no momento de aterrar em Lisboa.
A visão do desnorte das pessoas fica-me profundamente marcada e faz-me também agradecer a independência com que convivo e me permite alguma tranquilidade num momento destes.
As filas infinitas de gente à procura de comboios que já só teriam daí a uma semana, os guichets de aluguer de automóveis fechados e com indicações de veículos para apenas daí a uma semana (!), pessoas que não dominavam nem o inglês e muito menos o italiano e para quem as máquinas de emissão de bilhetes eram perfeitos blocos invioláveis de muitas e muitas duvidas… As pessoas cujos voos foram cancelados e permaneceram horas no aeroporto, passando de fila em fila, na esperança de um voo para seguir.
E o mais doloroso de tudo, pais desesperados por voltar aos filhos, famílias inteiras sem condições mínimas de acomodação e mesmo segurança, pessoas com as reservas financeiras (que já seriam poucas…) completamente esgotadas e sem perspectivas para os dias seguintes.
Uma história, em particular, deixou-me bem consciente do alcance que algo assim pode ter. Uma professora portuguesa que se dirigiu ao balcão de check-in, quase em choque, por trazer consigo um grupo de 31 alunos, cujo voo havia sido cancelado e sem perspectivas de regresso ou apoio de qualquer espécie. Naturalmente, por aqueles dias já todo o dinheiro trazido pelos jovens tinha sido gasto e apenas consigo fazer uma pálida ideia da angústia vivida por esta professora.
Definitivamente, a vida está a pôr-nos à prova.
Seja com vulcões, com terramotos e afins, seja pelo enredo de estruturas às quais estamos totalmente apegados e das quais dependemos em absoluto, tudo nos está a obrigar a rever, simplificar e a preparar para a transformação que os mais agoirentos anunciam desastrosas e os mais positivos prevêem difícil, mas essencial. Seja ela qual for, está a acontecer. No obvio e nas entrelinhas…
Alguém me dizia nestes dias que a única coisa que lhe importava era chegar a casa. Uma vez que isso acontecesse nada mais lhe importava, pois estaria a salvo.
E nesse instante, senti que é exactamente o contrário que se pretende. E que se precisa.
Nada podia de forma tão clara, fazer-nos entender o quanto estamos todos ligados. De como um acto aparentemente isolado nos pode perturbar a todos e de como só em colaboração podemos dar a volta a tremendas dificuldades.
E talvez seja por isso, que a salva de palmas, quando o avião aterrou em Lisboa, foi colectiva e sentida. Sem a contenção da vergonha que tantas vezes temos.
É hora de valorizarmos cada pequena vitória, cada ajuda inesperada que obtemos, cada pessoa que descobrimos como parceiro neste caminho. Vão ser trunfos cruciais para quando formos realmente postos à prova…

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